Segunda longa-metragem do realizador
norueguês, depois da sua estreia, em 2006, com Reprise – que já contava com o actor Anders Danielsen Lie – esteve
em competição no Lisbon & Estoril Film Festival’11.
Trabalho sobre a
(im)possibilidade da escolha, sobre o arrependimento e a (in)capacidade de nos relacionarmos
com segundos, sem os desiludir.
Anders é um ex-toxicodependente com demasiado
tempo e poucas ambições. Dada a sua disponibilidade e amabilidade, escuta
aqueles com quem se cruza, porque sente já não ter nada para contar. O som está
tão magistralmente trabalhado que quase parece que ouvimos com os seus ouvidos,
como quando escuta conversas separadas num café ou quando sai para a rua e, em
vez de ouvirmos os carros que cruzam a estrada, continuamos absortos no seu
mundo interior, que transporta demasiados pensamentos para se concentrar no
meio ambiente.
O tema é pesado, mas os planos são
belos, limpos, dotados de uma fotografia exemplar que nos acaricia o desconforto.
Mesmo o último plano, apesar de dramático, contém uma certa dose de poesia.
Há também espaço para os pequenos
gestos. Os primeiros vinte minutos são dedicados à longa conversa que tem com o
amigo, com piadas sobre Proust à mistura, onde percebemos a intenção do
personagem, para onde o filme caminha, mas isso é de menor importância, pois o
que conta não é o destino, mas a viagem.
30 de Agosto é o dia em que Anders se
despede da sua cidade e dos seus amigos, recorda conversas de outros tempos, e de
algum modo responsabiliza os pais pela sua situação. O dia seguinte é aquele em
que vê o sol nascer e lhe sorri, toca piano e se entrega ao seu mundo interior.
A câmara mostra-nos os lugares que visitou no dia anterior, a vida que continua
para além das pessoas que partem.
Anders Danielsen Lie protagoniza o
filme notavelmente, sempre de cara crispada, deixando escapar sorrisos
desmaiados em algumas ocasiões, como quando vai à pendura na bicicleta, numa
das cenas mais belas do filme. O seu personagem é um desistente, recordando ao
amigo o que este uma vez lhe disse: “Aqueles que se querem auto-destruir não
devem ser impedidos pela sociedade”. Ninguém quer que Anders parta, mas ninguém
acredita na sua recuperação. A irmã está tão amedrontada com a sua saída da clínica
de desintoxicação que nem consegue encontrar-se com ele, mandando a namorada no
seu lugar. Os pais estão em Nice a passear. O amigo diz-lhe para se encontrarem
numa festa, na qual nunca aparece. Todos esperam, envergonhados, o dia em que a
espera termine. É por isso que não o conseguem encarar. Porque não é só o fado
que é trágico. A ignorância e a possibilidade de escolha também não são pêra
doce.
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