domingo fomos ao campo. atravessámos a ponte muito cedo para a margem sul. as primas já brincavam na piscina que a tia montou debaixo da oliveira. a tia fazia de tubarão martelo e de thorpedo ao mesmo tempo. a prima pediu à tia para secar o cabelo da barbie primeiro. o dela não que ela não gosta. e de cabelos molhados fomos às laranjas às cavalitas da mãe e enchemos dois sacos para fazer sumo. no caminho comemos as últimas nêsperas e apanhámos folhas de couve para dar aos dois cavalinhos nossos vizinhos, só que eles não quiseram porque estavam a mamar. leite é melhor que couves. as videiras já têm uvas bebés. temos de esperar até setembro para as comermos, mas pusemos umas à boca na mesma e fizemos muitas caretas. vimos os alhos e as cebolas que estão quase boas disse o pai. a água do poço também subiu. regámos as courgettes e os tomates mas eu não gosto de tomate. apanhámos cidreira, lúcia-lima, erva príncipe e hortelã. a cozinha do tio cheira sempre a hortelã. cheira bem, mas sabe mal. o pai diz que os gostos mudam, mas eu nunca vou gostar de tomate! à tarde andámos de bicicleta e tirámos os caracóis da estrada. vimos muitas borboletas! não queria vir-me embora, mas temos de ir. no caminho de volta adormeci a olhar para os riscos brancos no céu que são nuvens que saíram de casa sem tomar o pequeno-almoço. quando acordei, já estava na cama. pai, lê-me uma história. ele leu.
era número 48 a casa amarela
uma escadinha e uma árvore
bem pequena na varanda
que de vez em quando dava jabuticaba
tão mirrada que nem em faz de conta a gente
sentia gosto de fruta
todo dia era dezembro na rua
miguel pereira mesmo quando chovia mesmo
naquele dia do tombo
de patinete o meu grito ecoando
e o seu espanto até quando a gente
discordava da cor de certas tardes ou quando
aprendeu junto a deslizar nas bicicletas
alguma coisa sempre escurecia
de noite uma vontade de ficar um pouco mais
os carros dos pais que chegavam
como besouros lentos e gordos
os carros que não deviam
não podiam
- pai, estás outra vez a ler histórias para ti?
o pai diz que no fim-de-semana vamos outra vez ver as primas porque elas fazem anos e que podemos arrancar as cebolas. perguntou-me se lhes queria dar um livro e mostrou-me muitos no computador. fiquei muito indecisa mas depois vi este e gostei do caracol porque eu e as primas vimos muitos caracóis!
no fim-de-semana já podemos investigar as borboletas e as flores e anotar as nossas descobertas. e depois podemos ilustrar as folhas e agrafá-las e fazer uma capa e dar-lhes um nome! as grandes descobertas cientifico-naturais das primas em Sarilhos Pequenos!
segunda acordei com um grande escaldão. pensava que os escaldões só se apanhavam na praia. afinal não!
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