quarta-feira, 10 de junho de 2020

terra estrangeira

um agente da PSP virou-se para um rapaz negro que falava espanhol e francês e gritou-lhe "fala português!".

um professor universitário virou-se para uma aluna branca que falava português do Brasil e disse-lhe "fala português". 

a PSP só "defende" quem é brancx, ups, quem fala português.

o professor universitário só compreende quem fala francês, ups, inglês, ups, português de Portugal. o professor compreende, mas prefere fazer que não compreende. o professor exerce uma relação de violência e não de troca de experiência. depois do que aprendeu na escola sobre Portugal e o Brasil, o professor universitário nunca mais refletiu sobre o assunto e acha-se no direito de não compreender outro português que não "o seu".

o professor universitário aprendeu que o português é só um, o que se aprende nas escolas portuguesas e mais nenhum. ó, senhor professor, a língua é um organismo vivo. vive dentro e fora da boca, vive em outras bocas e em outros corpos, adapta-se ao clima, ao mar salgado e à linguagem. a língua não pertence a ninguém, é dona de si e anda sempre a vadiar. saudosismo não cabe em mala de cabine.

em vez do amor aos lusíadas, era mais fixe começar-se a ler na escola, por exemplo, autorxs brasileirxs, para xs miúdxs se irem familiarizando com outras formas de falar português, ao mesmo tempo que se lhes abre uma outra visão da História.

e dois livros para as férias grandes:

vai, Brasil
deus-dará

carrega nos títulos e verifica a disponibilidade dos livros na Biblioteca Municipal Fernando Piteira Santos, na Amadora. 

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