quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

VIAGGIO IN ITALIA (1953) Roberto Rossellini

Rossellini era um cineasta intrinsecamente relacionado com o contexto em que a Itália vivia. A impossibilidade de um equilíbrio reflecte o desencantamento da Europa do pós-guerra, e aí a reconstrução económica através do Plano Marshall contribuiu para o declínio da sensação catastrófica no neo-realismo italiano.
Aquando do lançamento de Viaggio in Italia, Rossellini disse que se o neo-realismo é o reflexo da realidade e a realidade mudou, também o estilo deveria mudar.
O crítico francês Alain Bergala afirmou que “la Voyage est le premier filme moderne” – o filme que influenciaria toda a modernidade, especialmente a nouvelle vague francesa.
Rossellini opta por uma história simples, para dar ênfase ao modo de filmar, tendo em conta o local onde a acção se desenvolve. Ingrid Bergman e George Sanders personificam um casal inglês que faz uma pequena viagem por Itália, até Nápoles, de encontro a uma quinta que herdaram e querem vender. A viagem começa por ser prazerosa, mas rapidamente esse sentimento se desfaz para dar lugar à incompreensão entre ambos, resultante da sensação de estranheza, num país com costumes tão diferentes dos seus. Essa sensação é vivida diferentemente por cada um deles, tornando-os em dois estranhos. Ao perceberem que não têm mais nada a dizer um ao outro, cada um segue o seu rumo. A partir daí, Rossellini filma a sua trajectória individual, através da paisagem napolitana, pela qual se dão conta do vazio e fragilidade que sentem.
No final, o casal reconcilia-se. Rossellini acaba por defender os valores do matrimónio e da fé, numa fase de crise com a sua própria mulher Ingrid Bergman.
“Parece-me impossível ver Viagem em Itália sem sentir em cheio a evidência de que este filme abre uma brecha por onde todo o cinema deve passar, sob pena de morte.” (Jacques Rivette, Cahiers du Cinema)
“Filme de confissão e da fé reencontrada, Viagem em Itália é mesmo a obra de um asceta que, na sua encenação recusa a encenação, na sua intérprete e esposa nega a estrela em cada plano.” (Michel Grisola, Ficha Casterman)

2 comentários:

  1. O mais belo filme de Rossellini, para mim. Em especial a partir do momento em que o casal se separa, é tão emotivo e tão contido nessa emoção, é arrasador. George Sanders é um dos meus actores preferidos.

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  2. Pelo menos, um dos três mais belos, a par do Stromboli e do Roma, Città Aperta.

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