quinta-feira, 22 de março de 2012

Minnie and Moskowitz (1971) John Cassavetes


Com pouco tempo para aqui vir, para aqui estar, não podia passar ao lado de Minnie and Moskowitz, que vi há poucos dias. Um amor sem razão, de total absurdo, não nasce, mas move-se, entra e sai deles e da vida deles. Gostam/não gostam, querem/não querem, não temos nada em comum/que se dane. Como se o amor não precisasse de nada para existir, apenas há ou não há. Amor, não, que isto é paixão assolapada, daquelas mesmo só dos filmes, mas não tem flores, nem beijos com língua, nem olhos a cintilar, nem palavras bonitas. É só a vida, a paixão como ela é mesmo: gritos, pancada, choradeira, álcool e desespero. A coisa não se faz por menos e o amor é fodido, tão fodido, que mais vale agarrar-se logo a pessoa mais incompatível que existir, ter um bando de filhos e deixar a vida acontecer. Moskowitz não é especialmente bonito, nem educado, nem rico, mas está capaz de fazer qualquer loucura por Minnie. E ela não quer, mas depois até gosta. Ela só quer alguém que cuide dela. Moskowitz dá-lhe isso, mas sempre de forma trágica e dolorosa, estilo faca e alguidar, tão necessário para manter a chama acesa. Porque o amor quer drama. É mais bonito, não sei. Nem importa. Deu-me para isto, também não sei porquê. O que interessa mesmo é a câmara de Cassavetes que não filma quem fala, mas quem ouve, que não se demora no acessório, no enchimento do chouriço, e apenas no essencial, que dá espaço aos personagens para se movimentarem, que não usa a fórmula tradicional, não mostra tudo o que acontece, todas as reacções dos personagens, antes as dá a entender através da expressão dos outros. É de génio. É a fórmula em que Canijo se tem baseado. Que não dá nada de mão beijada e que torna as possibilidades infinitas. Este filme tem tudo para ser perfeito. É um absurdo com conhecimento de causa. Uma percepção nítida da impossibilidade de amar para a vida. Pega no casal mais paradoxal de todos os tempos e faz as coisas acontecerem. Resultou. Na vida não resultaria, não haveria 5min de hipótese. Se calhar é aí que começa o erro. Mas que importa?

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