Dias depois de ver Mauvais
Sang, tive a feliz surpresa de ver Les
amants du Pont-Neuf na festa do cinema francês, com a minha querida amiga e
companheira Rita, que chorou e se assoou todo o tempo. Eu não chorei. Talvez
por ela ter chorado pelas duas, talvez por eu ter chorado mais que a conta no Like someone in love.
Eu fiquei boa parte do tempo a achar que o filme ia
acabar a qualquer momento. Porque podia ter terminado muito antes e seria
igualmente extraordinário. Mas Carax leva-o à exaustão, num tour de force de performances espantoso,
sem o qual podia cair no abismo. Depois do absoluto realismo das
primeiras cenas num abrigo para quem não o tem, alterna entre uma mise-en-scène sabiamente controlada, com
cenas bastante longas, e uma explosão de cores, sons e movimentos de câmara
arrojados e delirantes, num hino ao amor desmedido e louco.
Alex encontra Michèle a dormir nos seus aposentos. Ela
aparece-lhe como uma dádiva, da qual ele decide fazer o sentido da sua vida. Passam a depender um do outro: ele ajuda-a a caminhar por Paris, servindo-lhe
de bengala, ela oferece-lhe companhia à noite, ajudando-o a passar as suas
insónias. O amor é assim uma necessidade, algo a que se agarram para sobreviver.
A relação é tão degradada como a ponte em que vivem, uma fortaleza em colapso
físico e existencial. São egoístas, obsessivos e maquiavélicos.
Alex faz tudo para que Michèle não consiga contactar a sua antiga paixão,
põe o dinheiro que roubaram a jeito para que ela o derrube sobre o rio - com
medo de a perder se saírem daquela ponte - e pega fogo aos cartazes espalhados
pela cidade, preferindo que ela cegue a que se seja operada,
porque só em condições extremas o seu amor é válido.
Ele é prisioneiro da ponte, ela é uma turista
à procura de um escape. Quando finalmente o encontra, não tem problemas em drogar Alex e partir, deixando-lhe uma nota bastante desagradável sobre o
leito do seu amor.
O tempo passa e Michèle vai ao encontro de Alex. Percebemos que está com o médico que a operou, mas não consegue fugir ao fascínio que Alex e a vida que tiveram juntos despertam nela. O perigo, a ansiedade, o amor sem regras, cego e desmesurado. Quando se encontram no natal não há possibilidade de ficarem juntos porque a ponte (como eles) não é a mesma, não é já deles, é agora firme e aberta ao mundo. Ao perceber que não pode ficar com Michèle, Alex atira-os ao rio porque é preferível uma morte à morte do amor. São salvos por um barco (homenagem a L’Atalante e espécie de pré-Titanic), desta vez uma superfície em movimento que os transporta para longe daquele lugar sem nada para lhes oferecer. Decidem partir juntos numa nova aventura, renunciando à vida “normal” que tinham conseguido para si mesmos. Serão sempre os marginalizados lovers on the run que se deixam conduzir por paixões obsessivas, tão prazerosas como sofridas.
O tempo passa e Michèle vai ao encontro de Alex. Percebemos que está com o médico que a operou, mas não consegue fugir ao fascínio que Alex e a vida que tiveram juntos despertam nela. O perigo, a ansiedade, o amor sem regras, cego e desmesurado. Quando se encontram no natal não há possibilidade de ficarem juntos porque a ponte (como eles) não é a mesma, não é já deles, é agora firme e aberta ao mundo. Ao perceber que não pode ficar com Michèle, Alex atira-os ao rio porque é preferível uma morte à morte do amor. São salvos por um barco (homenagem a L’Atalante e espécie de pré-Titanic), desta vez uma superfície em movimento que os transporta para longe daquele lugar sem nada para lhes oferecer. Decidem partir juntos numa nova aventura, renunciando à vida “normal” que tinham conseguido para si mesmos. Serão sempre os marginalizados lovers on the run que se deixam conduzir por paixões obsessivas, tão prazerosas como sofridas.
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