sexta-feira, 4 de outubro de 2013

ainda Kiarostami. assim é o amor.




Decorrida uma semana, Like someone in love continua tão presente que não consigo ver outro filme. Também não consigo sair à rua e lidar com o sol a arder sem glória, amolecido pelo temporal que se colou à pele e a fez suar as vísceras. O sol veio dizer adeus e não gosto de despedidas.
Por falar nisso, esta semana vi o episódio final de Breaking Bad, que seria óptimo, se tivesse terminado mais cedo. Já para não mencionar o de Dexter, que foi assim a banhada total. Daí continuar a aplaudir Kiarostami, que não se lembrando de mais nada, parou o filme ali e pronto. Gosto de finais que deixem as coisas a arder, que não resolvam nada, que deixem a história/o mundo em aberto.
Também esta semana, uma amiga dizia-me que um filme vale somente pela história e que lhe cansam os críticos que “perdem tempo” a falar da mise-en-scène, dos planos e “do resto”. Pois eu podia ficar horas a falar de planos. É tão belo o filme contar histórias através deles, deixar-se guiar sem um fim. Foram os planos que me fizeram ficar embasbacada com Breaking Bad, porque aquilo é coisa de cinema e é preciso um gajo arriscar a sério para fazer uma série assim.
Kiarostami não interfere com a vida que lhe entra pela câmara. Não conta a história, deixa a história contar-se. Uma história universal que é dele e de cada um de nós. Já todos fomos Akiko, à procura de algo e a tentar esconder o algo que somos de outro. Ou o namorado ciumento e obsessivo que sabe estar a ser enganado. Ou mesmo a vizinha com quem noutra altura nos podíamos ter cruzado e agora é tarde. Só não fomos a avó, por falta de filhos com que nos preocupar, ou Takashi, por força da tenra idade e de dias por viver.
Na cena no carro entre Takashi e o namorado,  o mais velho parece conter em si todo o conhecimento. Mas nunca diz nada específico, apenas solta linhas condutoras. When you know you will be lied to, it’s better not to ask. Não foi por falta de aviso que o namorado se deixou ser aldrabado. Continuou ali, preso num cubículo com um estranho, a tentar ser bem educado, a explicar as razões pelas quais quer casar com Akiko, todas ao lado, e não sabemos se está apaixonado ou obcecado por ganhar a batalha do amor. Ele não quer deixar que ela Seja, quer moldá-la a seu gosto. Mas não quererá Takashi o mesmo?
Kiarostami não quer moldar nada. Deixa que uma transeunte, que passa duas vezes com crianças vestidas de bruxas, fique confusa com o carro que sai do estacionamento e se ponha a olhar em todas as direcções. Dá tempo a Takashi para descer as escadas do prédio, deixa-o adormecer durante o sinal vermelho e que o trânsito interfira quando vai buscar Akiko, tendo de fazer inúmeras manobras até conseguir chegar a ela.
Todos eles (e todos nós) trocam impressões e expressões de amor, como quem está apaixonado. assim é o amor, uma estupidez intermitente mas universal, já dizia o valter.

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