segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

LADRI DI BICICLETTE (1948) Vittorio de Sica


Depois da queda de Mussolini passa-se fome em Itália. Os subúrbios estão cheios de operários sem trabalho, meninos sem escola e mães que percorrem longas distâncias para conseguir água. Antonio Ricci, Maria e Bruno vivem num destes subúrbios de Roma. Antonio consegue trabalho a colar cartazes e Maria vende os últimos lençóis para que o seu marido compre uma bicicleta, indispensável para ocupar o seu posto. No seu primeiro dia de trabalho roubam-lha. Antonio fica desesperado e sabe que tem de encontrá-la se quiser alimentar a sua família. Somos então encaminhados nessa jornada contra o tempo, pelas ruas de uma Roma doente, por onde caminham homens e mulheres gastos pela dor e pelo sacrifício.
Como em tantos outros filmes desta época, os actores não são profissionais. Antonio era, na verdade, um operário que acompanhou o seu filho a uma prova de casting, para o papel de Bruno, e despertou a atenção de De Sica pela autenticidade dos seus gestos. Esta geração de realizadores considerava necessário recrutar actores não profissionais entre os verdadeiros operários, uma vez que se queriam criar personagens que representassem fielmente um grupo social.
Este filme está repleto de detalhes e pequenas situações que comovem o espectador. A imagem de Bruno a limpar a bicicleta do pai é magnífica, sinal de admiração pelo seu herói.
No final, Antonio encontra-se desesperado por não encontrar a sua bicicleta e, ao ver uma fileira delas num parque de estacionamento junto de um estádio de futebol, a tentação apodera-se dele e rouba uma. Alguém se apercebe do sucedido e, num piscar de olhos, a multidão saída do estádio cai em cima dele, humilhando-o. Bruno assiste a tudo e a desilusão marca-lhe os olhos. O pai deixa de ser herói para ser ladrão.
De volta a casa, Antonio não consegue dizer nada ao filho, tal é a vergonha que sente por o ter decepcionado. É então que Bruno pega na mão do pai, compreendendo que mais do que um herói, Antonio é um companheiro que ele quer amar.
De Sica foi também o produtor deste projecto, arriscando o seu próprio dinheiro. A aposta foi ganha, não em Itália, mas nos Estados Unidos, onde obteve o Óscar de melhor filme estrangeiro.
 “A gentileza napolitana de De Sica torna-se, graças ao cinema, a mais vasta mensagem de amor que os nossos tempos tiveram a felicidade de receber depois de Chaplin.” (André Bazin, Qu’est-ce le Cinema?).

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