segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

DAYS OF HEAVEN (1978) MALICK


Terrence Malick é uma espécie de poeta visionário que trilha a relação entre duas naturezas: a orgânica e a natural. Não é de estranhar que tenha estudado filosofia em Harvard e escrito uma tese sobre a concepção do mundo. Em 69 traduziu o ensaio “The essence of reasons” (1929) de Martin Heidegger. Ainda nesse ano entrou na primeira turma a abrir no Centro para Estudos Fílmicos Avançados do American Film Institute, em Los Angeles. Os seus filmes clamam a urgência por recapturar a totalidade perdida do ser, um estado de integração idílico com o natural e ‘O Bem’ dentro e fora de nós. Natureza e Alma funcionam como elemento unificador, que caminha lado a lado com o mundo. A voz interior dos personagens fala frequentemente do Homem como um ser que partilha uma “grande alma” para “tocar a glória” onde “todas as coisas brilham”. É nestes termos que devemos entender a “calma” e “imortalidade” sugeridas na sua obra. Depois de Badlands, passou a congregrar representações visuais da natureza absolutamente esmagadoras, especialmente da luz filtrada através das árvores compridas, da relva a movimentar-se ao sabor do vento, do sol a iluminar a paisagem. É através dessas representações que o realizador expressa o seu reconhecimento do mundo como um paraíso perdido, entre a escuridão e a morte, mas aberto à redenção através do altruísmo individual. Em Days of Heaven, as imagens da natureza interligam-se com as acções dos protagonistas, ao mesmo tempo que fornecem um correlativo objectivo dos seus estados emocionais, antecipando-os, muitas das vezes. Passado no Texas, durante a 1ª Grande Guerra, o filme contém todos os elementos do western, sem que nenhum desempenhe um papel-padrão na narrativa. Existe a tarefa de trabalhar a terra, mas é realizada por trabalhadores migrantes. Há um herói "oficial" (o proprietário da terra) - que falha na sua tentativa de ‘purificação’ - e um herói fora-da-lei (Bill), que é punido, ao invés de resgatado. Há ainda uma voz-over, a de Linda, que não fornece o tipo de apropriação normalmente disponibilizado por esse dispositivo, devido à perspectiva peculiar e naïve que ela tem sobre os eventos, escusando-se mesmo a comentar cenas fulcrais da acção.




Casa junto da Linha Férrea, 1925. Hopper


O mundo de Cristina, 1948. Andrew Wyeth


O que me fascinou em Days of Heaven foram as ligações à pintura de Hopper e Andrew Wyeth. Já tínhamos visto Hitchcock a apropriar-se de uma das casas de Hopper n’ Os Pássaros, mas Malick leva essa reapropriação muito mais longe - e um ano a seguir é Woody Allen que dá vida à Queensborough Bridge, em Manhattan. Depois, a história e percurso dos 3 'irmãos' é esmagadora. Bill quer tudo e acaba por ficar sem nada, levando todos à desgraça e à ruína. Um filme muito diferente do que o antecedeu e sucedeu, onde Malick está nitidamente à procura de algo que levou 20 anos a desenvolver.

2 comentários:

  1. Muito bom, não sabia da relação entre este filme e certos pintores e adoro o Days Of Heaven!

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  2. Os quadros do Hopper são muito cinematográficos. Nasceram ao mesmo tempo que o cinema americano se estabelecia como representação da vida moderna. Mas não só os americanos lhe vão buscar influências. Wenders e Antonioni são outros bons exemplos.

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