Todos nós conhecemos a história clássica de Cathy e
Heathcliff, do romance de Emily Bronte, publicado em 1847, ou quanto mais não
seja da música da Kate Bush - How could
you leave me when I needed to possess you? I hated you, I loved you too.
Arnold filma a paixão entre os dois irmãos emprestados através dos instintos
mais básicos e primitivos do ser humano. Os dois jovens lutam, despem-se,
tocam-se, esfregam-se, olham-se, cheiram-se, e não trocam uma palavra porque o
seu entendimento vem de algo anterior, apenas existente no plano sensorial.
Eles são o mundo que os envolve - os cavalos velozes, o vento, a chuva, o sol,
as penas, os frutos - e a tempestade que assola o monte diariamente é a que
corre nos seus corpos. A câmara de Arnold segue os personagens, anda atrás
deles e deixa que sintamos o seu cheiro, porque é assim que eles se reconhecem,
como animais selvagens. Quase não existe banda sonora, a não ser as músicas
tradicionais que Cathy canta, o vendaval e a balada dos amantes renegados, no
fim, composta pelos Mumford & Sons, que se intitula, exactamente, The Enemy. Heathcliff chega ali como um
estrangeiro e é olhado com um misto de atracção e repulsa. As sensações que a
sua presença despoleta instalam a desordem, e um caos fundamental abate-se
sobre aquele lugar, fazendo com que todos se tornem escravos uns dos outros e
de si próprios. Não há salvação possível porque todos são cúmplices do pecado
primordial que o rapaz negro representa. Ele é o adversário e o fruto proibido.
Assim, um a um, pagam a rejeição: primeiro o pai, depois o filho, Cathy e
finalmente Heathcliff, o fantasma que lá permanece a agonizar.
Um belo texto de critica a este magnifico filme e que até sabe a pouco... Acrescentaria que das duas fases de Cathy e Heathcliff, a juvenil e a adulta, é a mais jovem de ambos a mais magnética. Um invisivel amor, tão forte e nem se beijam. Por acaso, estive sempre a torcer que nessa fase acontecesse algo "quente" mas o que ambos partilham foi mais profundo e lhes marcou a alma, como a Cathy refere quando confessa o tormento.
ResponderEliminarOlhando bem para trás... o ponto inicial de tudo ter corrido mal, reside no racista irmão de Cathy, que contaminou fortemente qualquer futuro depois do pai deles se ir.
Sinceramente, a ausência de banda-sonora em substituição da visceralidade dos sons da natureza e dos ventos e chuva, ampliam e engrandecem o filme, a pontos que nem me caiu bem a canção dos créditos finais (o filme parece que pedia aí um score orquestral minimal e perturbante).
Magestoso filme! Andrea Arnold é um autora que domina mesmo... já espero,seja qual for, o próximo filme dela... (e que não seja no formato tv 4:3).