sábado, 12 de maio de 2012

O monte dos vendavais



Todos nós conhecemos a história clássica de Cathy e Heathcliff, do romance de Emily Bronte, publicado em 1847, ou quanto mais não seja da música da Kate Bush - How could you leave me when I needed to possess you? I hated you, I loved you too. Arnold filma a paixão entre os dois irmãos emprestados através dos instintos mais básicos e primitivos do ser humano. Os dois jovens lutam, despem-se, tocam-se, esfregam-se, olham-se, cheiram-se, e não trocam uma palavra porque o seu entendimento vem de algo anterior, apenas existente no plano sensorial. Eles são o mundo que os envolve - os cavalos velozes, o vento, a chuva, o sol, as penas, os frutos - e a tempestade que assola o monte diariamente é a que corre nos seus corpos. A câmara de Arnold segue os personagens, anda atrás deles e deixa que sintamos o seu cheiro, porque é assim que eles se reconhecem, como animais selvagens. Quase não existe banda sonora, a não ser as músicas tradicionais que Cathy canta, o vendaval e a balada dos amantes renegados, no fim, composta pelos Mumford & Sons, que se intitula, exactamente, The Enemy. Heathcliff chega ali como um estrangeiro e é olhado com um misto de atracção e repulsa. As sensações que a sua presença despoleta instalam a desordem, e um caos fundamental abate-se sobre aquele lugar, fazendo com que todos se tornem escravos uns dos outros e de si próprios. Não há salvação possível porque todos são cúmplices do pecado primordial que o rapaz negro representa. Ele é o adversário e o fruto proibido. Assim, um a um, pagam a rejeição: primeiro o pai, depois o filho, Cathy e finalmente Heathcliff, o fantasma que lá permanece a agonizar. 

1 comentário:

  1. Um belo texto de critica a este magnifico filme e que até sabe a pouco... Acrescentaria que das duas fases de Cathy e Heathcliff, a juvenil e a adulta, é a mais jovem de ambos a mais magnética. Um invisivel amor, tão forte e nem se beijam. Por acaso, estive sempre a torcer que nessa fase acontecesse algo "quente" mas o que ambos partilham foi mais profundo e lhes marcou a alma, como a Cathy refere quando confessa o tormento.
    Olhando bem para trás... o ponto inicial de tudo ter corrido mal, reside no racista irmão de Cathy, que contaminou fortemente qualquer futuro depois do pai deles se ir.
    Sinceramente, a ausência de banda-sonora em substituição da visceralidade dos sons da natureza e dos ventos e chuva, ampliam e engrandecem o filme, a pontos que nem me caiu bem a canção dos créditos finais (o filme parece que pedia aí um score orquestral minimal e perturbante).
    Magestoso filme! Andrea Arnold é um autora que domina mesmo... já espero,seja qual for, o próximo filme dela... (e que não seja no formato tv 4:3).

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