O ano começou,
já lá vão uns meses, e tive tempo para ver alguns filmes. O último foi o Tiny Furniture da Lena Dunham - para
quem não conhece, a tipa das Girls. É
basicamente o mesmo. Final da universidade, o já não ser (assim tão) jovem, mas
estar longe de tomar decisões adultas - esse limbo de quem termina os estudos e
é lançado aos leões. A personagem de Lena volta a casa da mãe, reencontra amigas
do secundário, faz um mais-ou-menos amigo e arranja um trabalheco sem ir à
procura dele - do qual não precisa assim tanto e pode eventualmente desistir.
Ela deseja coisas grandiosas, ser tão bem sucedida quanto a mãe, mas só a vemos
fazer uns vídeos para o youtube. É aquela vontade ociosa de exposição que a
tecnologia nos impõe e que acaba em vazio. Há demasiadas opções virtuais para
poucas oportunidades reais. Claro que os problemas dela são coisas de classe média
alta. Deixar um trabalho porque lhe apeteceu passar-se, tem o valor que tem,
dentro do contexto dela. Há quem não tenha essa opção. O resto é o resto. Não
quero realmente falar sobre este filme. Preferia falar sobre outro, como A Grande Beleza, mas há filmes que não são
de quem os escreve, mas de quem os sofre.
Nestes 4 meses fui a muitos lugares, não estando
realmente em nenhum sítio. Voltei a Lisboa, deixei-a levar-me nos seus eléctricos
cheios, de gente que não a conhece, Lisboa que é nossa e para eles se aperalta
- e volto à linha do meu comboio e vou com as mesmas caras pelas mesmas
paragens, de olhos fechados, as estações mudam e, durante viagem, o que há de firme passa e o que sempre se move permanece.