segunda-feira, 14 de novembro de 2011

A Fronteira do Amanhecer (2008) de Philippe Garrel



Depois de ver Un été brûlant, recordei-me deste, que ao pé do primeiro se torna melhor do que realmente é. Daquele já falei mal o suficiente aqui. Por isso vou falar do outro, para que algo de bom reste.
É um filme sobre a força e a fraqueza do amor, naquele lusco-fusco em que não há luz nem escuridão, em que não há nada. Feito de ambiguidades, correspondências, partidas e quebras, passado em interiores - uma casa, um quarto de hotel, um hospital - onde se tomam decisões, onde os personagens vivem angustiados na sua solidão. Apesar de se encontrarem, todos estão sós, abandonados àquelas paredes brancas, entregues a si mesmos.
François e Ève estão condenados ao fracasso antes mesmo de se conhecerem. Ela é frágil (terá tentado suicidar-se no passado) e apoia-se nele, que nada pode fazer por ela, preso ao fantasma de uma mulher que lhe dedicou um amor louco e que o levou até ao seu túmulo, como que uma premonição de morte. Não é, pois, só Carole que enlouquece. A lucidez de François vai-se perdendo com as suas aparições e com o sentimento de auto-culpabilização. Ève é, no meio disto tudo, a vítima do amor doentio de François e Carole, e o filho que carrega no ventre representa a sagração da fraqueza e do medo dela e François, que para ali canalizaram a esperança de um amanhecer que tarda em aparecer.
A câmara é gentil com os personagens, mostrando sempre a sua beleza, mesmo aquando da autodestruição de Carole. Vemos como estão presos na sua pele e às paredes em que se fecham. São eles que se violentam a si mesmos. François anda por ali à espera do sol, não se conseguindo mover sem ele, numa apatia e desassossego constantes. E, no fim, nada resta deste trio desesperado por um lugar no amanhecer.
Não é um grande filme, mas ainda há ali qualquer coisa, ainda se sente. Ou então fui eu que sonhei, a preto e branco.

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