sábado, 19 de novembro de 2011

SPLENDOR IN THE GRASS (1961) Elia Kazan


Ao escrever um artigo sobre Almodóvar (que pode ler-se aqui), veio-me imediatamente à lembrança este filme, melodrama dos melodramas.
Quinta longa de Kazan, Splendor é dramático, exacerbado e controverso, visto dentro do seu tempo. A acção decorre entre o fim dos anos 20/inícios dos anos 30, no começo da depressão, em Kansas. Encara o primeiro amor e as consequências desastrosas da repressão sexual num par de adolescentes apaixonados, quando novos sentimentos aparecem e são contrariados devido aos valores morais e éticos que a sociedade prega.
Existe aqui esse modo romântico de olhar o amor, de o divinizar, elevando a sua não concretização ao patamar da maior dor, uma dor consentida e quase fonte de prazer – aquele prazer que é o do sofrimento. O colapso do romance coincide com o crash da Bolsa de Valores de Nova Iorque, em 1929.
Apesar de ser já um filme de 60, veio no seguimento dos filmes dos anos 50 que retratam os problemas e a exploração da juventude, como Picnic (1955), Rebel Without a Cause (1955), East of Eden (1955), Peyton Place (1957), A Summer Place (1959) e o musical do mesmo ano West Side Story (1961).
A decoração do quarto de Deanie é símbolo da sua inocência, com tons rosa, fotografias de Bud e um ursinho castanho.
Bud quer fugir de um troféu que não conquistou, herdou – a torre de petróleo. Depois da irmã ter fracassado, tem se suportar sozinho as esperanças do pai.
Ginny lembra a Marylee (Dorothy Malone) de Written on the Wind (Douglas Sirk, 1956).
Mrs. Stamper é uma personagem sem carácter ou opiniões, que vive à sombra do marido. Ace domina-a, a ela e ao filho, que por seu turno saiu apagado como a mãe, sem grandes talentos ou vontade de marcar a diferença. É interessante ver que é Ginny a mais parecida com o pai, determinada e desobediente, é dona do seu nariz.
Na cena em que Bud vê Ginny num carro com um homem qualquer, entra numa luta, mas não é só pela irmã que luta. Também ele se sente a cair e então começa ao murro a todos os homens que lá estão, libertando a sua fúria e a sua frustração. A adolescência devia ser um período de experiência e descoberta, um mundo que Ginny já esgotou e onde Bud ainda nem entrou, completamente castrado por Deanie, pelo pai e pela sociedade. Enquanto luta com os homens que abusam da sua irmã, ela observa a cena a chorar, vendo a sua degradação e aquela em que colocou o irmão – é por Ginny ter arrasado com tudo o que o pais lhe proporcionaram, que Bud é tão pressionado -  e ela está sinceramente triste nesta cena, a última em que a vemos. Para ela não há salvação, Ginny vai ter de morrer, pois apenas os bem comportados merecem o perdão.
Os Stamper acabam por se extinguir naquela cidade e a sua casa tornou-se numa funerária, simbolizando a morte do pai, da filha e da sua fortuna.
A felicidade que Deanie queria está representada na família que Bud construiu. Agora já nem é uma questão de diferença de classes, porque Bud é muito mais pobre que ela e Angelina muito mais campónia. É uma questão de tempo. Bud nada fará para recuperar o tempo que o afastou de Deanie. Ele é o conformista desta história, e ela a vencida. Foi o desejo que a levou à loucura. O desejo que estava fora do quadro de uma sociedade puritana e rígida. O seu pecado começou dentro da sua própria cabeça, não precisou sequer de uma concretização.
O filme atravessa a crise económica, a crise moral e de costumes. É nostálgico, dorido e apela aos sentimentos e às relações afectivas. As personagens são estereotipadas. Temos a família pobre e a família rica, uma rapariga inocente e virginal (Deanie) e a sua antítese (Ginny), e um amor não consumado.
Bud acabou por não corresponder a nenhum dos sonhos que o pai tinha para ele e ficou com uma rapariga ainda mais pobre que Deanie, que por seu turno percebe que o seu herói dos tempos do Liceu, não passa agora de um homem que ganha o suficiente para dar de comer à mulher e aos filhos. Deanie está agora muito mais madura que ele. Ambos tiveram de aceitar compromissos nas suas vidas e ela compreende que a paixão que um dia partilharam nunca mais será recuperada, pois muita coisa já se passou desde que eram dois miúdos. Despedem-se, sabendo que o seu capítulo conjunto está encerrado, que não vão ter vidas entusiastas, mas que vão seguir em frente, ainda que resignados ao contexto.
Quando Hazel pergunta: “Deanie, honey, do you think you still love him?”, ela olha para o seu futuro, aceitando-o. Resolvidos os seus conflitos interiores, os seus anseios e desilusões, põe de lado a exuberância da juventude e ganha força a partir do que resta – as suas memórias:
“Though nothing can bring back the hour
Of splendor in the grass, of glory in the flower
We will grieve not, but rather find
Strength in what remains behind.”

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